A construção das relações pessoais é regida por atitudes e comportamentos muito claros e permanentes, e que determinam se os vínculos vão ser solidificados ou não.
Neste sentido, o sofrimento talvez seja o marco mais competente e inflexível. Isso porque não há exercício de aproximação entre duas pessoas mais eficiente do que a solidariedade no desespero, nem instrumento de contrariedade mais áspero do que o descaso afetivo.
Aprenda todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana, porque é da sintonia afetiva dessa relação que se estabelecerá uma interação emocional para ser lembrada com carinho ou desprezo!
A maioria das pessoas tem uma vida tão pobre de emoções que uma doença grave, uma passagem pela u.t.i. ou uma cirurgia de grande porte têm grande chance de serem rememoradas como um marco emocionalna vida desses indivíduos.
Para alguém fragilizado pela doen;ca e terrificado pela fantasia da morte, não há atropelamento afetivo mais doloroso e inesquecível do que a desconsideração. No extremo oposto, a recepção solidária e carinhosa de dúvidas e medos, angústias e fantasias, tristezas e esperanças, estabelece um vínculo mais sólido e definitivo que se possa imaginar. E todos estes ingredientes estão ali, comprimidos naquele abraço prolongado até mesmo depois da primeira consulta.
Esta exposição de afeto é que dá ao médico a rara oportunidade, entre todas as profissões, de conhecer verdadeiramente as pessoas em pouco tempo de convívio, visto que tomadas pelo sofrimento, nunca têm animo nem motivação para aparentarem, e desnudas de disfarce, elas simplesmente são.
Esse intercâmbio afetivo intenso, apesar da rapidez do momento, enseja a oportunidade, para que todos e cada um de nós aproveitemos ou não, de nos tornarmos especialistas em gente, essa matéria-prima que se renova a cada novo personagem, com sua história pessoal, às vezes caótica, às vezes comovente, mas sempre rica, única e intransferível.
Fiquem com Deus e tenham uma ótima semana... Um grande abraço, Alex.
Olá Alex,
ResponderExcluirO que chamamos a alma humana liga-se à emergência de uma consciência pessoal, única, sem a qual a individualidade não existe.