Sou muitíssimo a favor de leis que regulamentam a maneira de se viver em sociedade, que têm, no Brasil, exemplos mais recentes na lei anti-fumo, e a lei que proíbe beber antes de dirigir, a lei seca.
Não fumo e fiquei muito feliz com a primeira. Com a segunda, fui a vítima clássica da nova diretriz, pois no passado distante bebi pouco mais bebi e dirigi. Mas a considero ótima, o importante é que os índices de morte no trânsito caíram drasticamente com ela. Só lamento que esta lei seja tão mal fiscalizada.
Agora, claro existem leis bastante estúpidas, como é o caso da nova Lei das Palmadas, o projeto proíbe palmada, beliscão ou qualquer tipo de castigo físico que provoque dor em crianças, adolescentes. No entanto, não é qualquer pai que vai pra cadeia por bater no filho. O alvo principal do projeto não é o “beliscão ou palmadinha”, mas casos como de Isabela Nardoni, em que o pai e/ou a madrasta acharam que a criança era uma bola e a arremessaram da janela do apartamento, só pra ver se ela voltava quicando. Não voltou.
Bom, o caso dos Nardoni foi resolvido na esfera criminal, como era de se supor em situações como esta. Problemas de espancamento de crianças normalmente vão parar nas delegacias – ora os vizinhos, ora professores ou colegas da vítima denunciam e o caso vai parar no colo das autoridades. Espancar crianças já é crime, como, aliás, espancar qualquer pessoa também o é.
Teríamos, pois, uma novidade se a diretriz fosse feita para coibir as palmadinhas, e seria impossível fiscalizá-la se assim fosse, além de consideravelmente inútil. E, não sendo assim, tem-se uma lei completamente redundante e populista.
Com o oportunismo desta lei o governo investe para tirar uma boa meia dúzia de votos daquela classe média conservadora superprotetora em relação aos filhos, aquele povo que para o carro em fila dupla na frente da escola só para o filho não ter que dar dez passos pra entrar no carro na próxima esquina. É esta classe média que supervaloriza o papel da criança na sociedade e que transforma os pequenos humanos em seres mimados e pouco capazes de se virarem sozinhos, que hoje infestam as escolas e faculdades, e em bem pouco tempo dominarão os postos de trabalho.
E este zelo excessivo para com as crianças não é um fenômeno brasileiro. Talvez tenha começado nos Estados Unidos, onde todo mundo tem medo de tudo e os pais escondem armas em casa, para o caso do filho ser acordado de madrugada por um terrorista, que claro vai querer explodir o filho dele com uma bomba atômica. E essa maluquice se espalhou.
Na Copa do Mundo da África do Sul, a Seleção Francesa caiu fora na primeira fase, após a desclassificação os jogadores cinicamente emitiram um comunicado público no qual pediam desculpas às crianças francesas pelo mau exemplo.Quando o golfista Tiger Woods foi pego em um escândalo sexual, anunciou ser viciado em sexo e também emitiu comunicado desculpando-se perante todas “as crianças do mundo que me admiram”. Por favor, criança também pensa em sexo, ao contrário do que muito gente imagina. As que não pensam, um dia irão pensar. Não tem nada que se desculpar. A vida é sua e você a usufrui da maneira que melhor lhe convir.
Há pouco tempo, trafegando em um condomínio fechado, vi placas com a inscrição: DIRIJA A 20 KM/H. NOSSAS CRIANÇAS BRINCAM NESTAS RUAS. É claro que eu também passaria devagar ali se a placa tivesse apenas a inscrição DIRIJA A 20 KM/H e não o restante brega da sentença, mas não pude deixar de imaginar crianças daquele condomínio fitando o carro com seus sorrisos remelentos e prepotentes a pensar “Você vai devagar porque aqui eu posso tudo. Minha mãe e a síndica me falaram”.
Enfim, há uma febre de superproteção às crianças, endossada por adultos que andam perdendo a noção do ridículo, o que só acaba gerando crianças que se transformarão em adultos mimados, despreparados para lidar com problemas e, consequentemente, ridículos. Tratemos, bem as crianças e valorizemo-as com o devido respeito sempre, mas nunca se esquecendo de que brincar na rua, levar pontos em acidentes banais, chegar em casa imundo, ouvir eventualmente o palavrão “não” e tomar umas palmadas na bunda de vez em quando fazem parte do aprendizado de tornar-se adulto. Grandes seres humanos têm menos chances de serem formados no imaginário mundo da superproteção.
Fiquem com Deus, vivam e deixem nossas crianças viverem... Tenham uma ótima semana e um grande abraço, Alex.